
Infiltrado na Klan: uma história surpreendente
No final da década de 1970, Ron Stallworth, se torna o primeiro policial negro da cidade de Colorado Springs. Após passar um bom tempo no almoxarifado, ele embarca em uma missão diferente para investigar um caso de cunho social: os crimes racistas da seita Ku Klux Klan.
Esse é o enredo para a trama baseada em fatos reais do filme Infiltrado na Klan ou BlackKklansman, em inglês.

Cartaz de divulgação de Infiltrado na Klan, 2018.
Ron começa a investigar a seita supremacista Ku Klux Klan na cidade e, depois de alguns meses, começa a ter uma relação mais íntima com seus líderes e consegue se tornar um membro importante do grupo.
A Ku Klux Klan é uma organização terrorista criada ao final do século XIX, depois da Guerra de Secessão, por ex-soldados confederados do sul que lutaram para manter a escravidão no país e foram derrotados.

Ator John David Washington interpretando Ron Stallworth em Infiltrado na Klan. Fonte: IMDB.
O objetivo da seita era perseguir, promover linchamentos e assassinatos contra afro-americanos e seus defensores. O grupo existe até os dias atuais, porém mais enfraquecido.
Toda a história é baseada em fatos reais, muita coisa realmente aconteceu, mas nem tudo tem 100% de veracidade. O nome original é BlackkKlansman e o filme se demonstra sarcástico e irônico do início ao fim.
Now nominated for six #Oscars, including Best Picture of the Year, #BlacKkKlansman is back in select theaters for a limited time.
Get tickets: https://t.co/2CZA3IJDus pic.twitter.com/ulqZEsHQku
— BlacKkKlansman (@BlacKkKlansman) January 24, 2019
O roteiro precisou ser adaptado com base no livro do próprio Ron Stallworth, “Black Klansman: a memoir”, traduzido como “Infiltrado na Klan”.
Produzido em 2018, sob a direção de Spike Lee, o elenco conta com os atores John David Washington (Ron Stallworth), Adam Driver (Flip Zimmerman), Laura Harrier (Patrice), Topher Grace (David Duke), Jasper Pääkkönen (Félix) entre outros.

Spike Lee, diretor de Infiltrado na Klan, 2018. Fonte: Hypeness.
Quem foi Ron Stallworth?
O policial negro que conseguiu se infiltrar na Klan, e chegou até a receber uma carteirinha de membro do grupo, entrou para a corporação em novembro de 1977.
Em entrevista para a BBC em 2017, Ron Stallworth disse que
sempre quis ser policial e que seu primeiro caso foi monitorar uma conversa de um membro do Panteras Negras.
Ele conta que o que ouvia fazia sentido para ele, mas ao mesmo tempo, como policial, as palavras iam de encontro ao que representava.

O verdadeiro Ron Stallworth, o policial que chegou a ser membro da Ku Klux Klan.
Como um negro conseguiu se tornar um infiltrado na klan?
Se não fosse verdade, o filme pareceria absurdo. Contextualizado no final da década de 1970, com figurino e cenário impecáveis, além de uma excelente trilha sonora, ele conta a história do primeiro policial negro na corporação da cidade e sua empreitada contra o racismo da Ku Klux Klan.
Ron Stallworth se comunicava com os membros por meio de telefonemas e cartas. Ele começou realizando longas ligações telefônicas aos líderes da Ku Klux Klan de Colorado Springs.
Depois disso, acionou sua corporação para treinar um policial branco para que pudesse interpretá-lo durante as reuniões do grupo. Quando precisava estar presente, ele enviava Flip Zimmerman, policial branco e judeu.

O ator Adam Driver no papel de Flip Zimmerman, à esquerda, e John David Washington no papel de Ron Stallworth, à direita. Fonte: BBC.
Após se tornar um dos líderes da seita, ele consegue sabotar diversas ações, linchamentos e outros crimes de ódio planejados pelo grupo.

Carteirinha da Ku Klux Klan de Ron Stallworth. Fonte: IMDB.
Tanto Ron quanto Flip acabam correndo sérios riscos de vida ao se infiltrarem em uma organização fortemente armada.
O descobrimento de uma causa
O policial Ron Stallworth era uma pessoa alheia à luta contra o racismo. Não se preocupava com a história e os direitos dos negros em seu país.
Porém, quando começa a investigar o grupo criminoso supremacista, Ron inicia uma jornada de descobrimento que o leva ao engajamento pelos direitos dos negros nos Estados Unidos.
Da mesma forma, Flip é um homem branco que nunca se preocupou com o preconceito e o racismo, pois nunca sofreu com isso. Mas quando ele se infiltrou na Ku Klux Klan, começou a refletir sobre sua origem judia e sobre o racismo.
Com isso, o diretor Spike Lee demonstra que o desinteresse das pessoas na luta pelos direitos civis e igualdade de raça pode se voltar contra si mesmo. E as pessoas geralmente só percebem isso quando sentem o problema na pele.
O filme mostra no início um Ron subjugado e alheio, mas que termina de cabeça erguida e confiante de seu papel na sociedade.
Crítica para ambos os lados
É interessante notar que o filme faz uma dura crítica ao pensamento racista e supremacista nos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo também não perdoa a falta de diálogo do lado daqueles que lutam pelos direitos dos negros.
Ron, por muitas vezes fica num meio termo entre lados radicais e precisa mentir para ambos os lados para seguir sua investigação.
A força política do filme está no fato de que ele não vangloria o herói nem ridiculariza o adversário.
A atualidade de Infiltrado na Klan
Apesar de ser inspirado em uma história do final da década de 1970, o filme mostra passagens que facilmente, e infelizmente, poderiam ser vivenciadas nos dias atuais onde a pós-verdade tem prevalecido.
É possível ver um diálogo, por exemplo, em que um membro da Ku Klux Klan afirma que o Holocausto foi uma grande mentira e que os meios de comunicação escondem a verdadeira história, soando como se fosse uma teoria da conspiração.
Não estamos tão distantes assim quando vemos a quantidade de fake news disseminadas na sociedade. Essa é apenas uma das passagens em que Spike Lee mostra que o ódio e o preconceito dependem da desinformação para se disseminar.
Infiltrado na Klan está recheado de cenas onde o preconceito se apresenta de forma caricata e bastante clara. Mas o que parece loucura, na verdade é um retrato muito próximo da nossa realidade atual.
No início apresentam-se cenas do pós-Guerra de Secessão e também do filme “O Nascimento de uma Nação”, de 1915, que possui um tom extremamente racista, mostrando a Ku Klux Klan como heróis da nação.
As cenas finais mostram um grupo que convocou uma manifestação racista e supremacista em Charlottesville, na Virgínia, onde uma pessoa morreu e diversas ficaram feridas.

Supremacistas com bandeiras dos Estados Confederados e do Nazismo em Charlottesville, Virgínia, 2017. Fonte: Poder 360.
Com isso, Spike Lee pega pesado no tema atual das questões raciais nos Estados Unidos e a importância da luta por direitos civis.
Uma obra digna de prêmios
Infiltrado na Klan foi aplaudido de pé no Festival de Cannes, em 2019. E não é pra menos. O filme provou ser potente, misturou humor com crítica ácida, sobre um tema atual.
Não é a toa que levou grandes prêmios pelo mundo. Confira:
- Prix de Public UBS – Locarno Film Festival 2018 (Suiça);
- Grande Prêmio do Júri – Festival de Cannes 2018 (França);
- Prêmio BAFTA de Cinema – Melhor Roteiro Adaptado 2019 (Inglaterra);
- Oscar – Melhor Roteiro Adaptado 2019 (EUA);
- Satellite Awards – Melhor Filme 2019 (EUA).
Da uma olhada no trailer de Infiltrado na Klan:
Muito bem ambientalizado na década de 1970, o diretor Spike Lee conseguiu unir uma dura crítica ao racismo com uma pegada de humor, sem tirar importância do debate sobre o tema.
Todo o cenário e o figurino foram muito bem produzidos e com uma trilha sonora marcante.
Realmente, vale a pena tirar uma “sexta” ou um “sábado” a noite para assisti-lo.
Acesse o NOW, pegue a pipoca e dê o “play”. Se você ainda não tem o NOW, entre em contato com a Claro NET.
E se você gosta de filmes baseados em histórias reais, leia o nosso artigo com 5 filmes baseados em histórias reais de mulheres excepcionais.